A Vila Itororó é um conjunto arquitetônico projetado por Francisco de Castro, composto por mais de dez edificações erguidas ao longo do século XX para fins residenciais e de lazer. Situada na encosta do Vale do Itororó, na fronteira entre os bairros da Liberdade e Bela Vista, no centro de São Paulo, a Vila ocupa cerca de 6.000 metros quadrados no coração de uma quadra. Em 2002, a Vila Itororó foi tombada como patrimônio pelo CONPRESP (órgão municipal) e, em 2005, pelo CONDEPHAAT (órgão estadual). Em 2006, foi decretada área de utilidade pública e desapropriada pelo governo do Estado e pela prefeitura de São Paulo para fins culturais. A restauração da Vila Itororó, iniciada em 2013, é realizada por meio de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e o Instituto Pedra.

O Instituto Pedra é uma associação sem fins lucrativos com a missão de valorizar o patrimônio cultural, gerando conhecimento através de intervenções que consideram as dimensões simbólica, material e territorial. Durante a realização dos levantamentos arquitetônicos do conjunto da Vila Itororó, projetos complementares e execução das obras de restauro, o Instituto Pedra abriu o canteiro de obras para compartilhar o conhecimento gerado no local e debater coletivamente os usos futuros da Vila.

Ao invés de realizar o restauro a portas fechadas para inaugurar um centro cultural definido por poucas pessoas, o projeto de restauro da Vila Itororó propôs a abertura do canteiro de obras desde o início. Entre abril de 2015 e março de 2018, um experimento de centro cultural foi instalado no meio do canteiro, funcionando como uma praça pública.

A ideia era revelar o processo da obra e imaginar os usos futuros da Vila a partir das experimentações e debates públicos, principalmente no galpão anexo à Vila Itororó. Atualmente, o projeto Vila Itororó Canteiro Aberto reduziu seu escopo, focando nas reflexões sobre a restauração em curso e na divulgação de conhecimento sobre a Vila, sem englobar as atividades culturais do galpão. No entanto, a ação continua integrada, envolvendo a participação de ex-moradores da Vila, moradores do entorno, artistas, pesquisadores, arquitetos e trabalhadores da obra.

Restauração da Vila Itororó

A primeira proposta de intervenção no espaço surgiu nos anos 1970, por um grupo de arquitetos, incluindo Benedito Lima de Toledo, Claudio Tozzi e Décio Tozzi, junto com a curadora Aracy Amaral e o paisagista Burle Marx. A proposta reconhecia a importância cultural dos imóveis auto-construídos e pretendia transformar o local em um polo artístico, gastronômico e turístico. Contudo, a proposta gerou controvérsia entre arquitetos, moradores, movimentos sociais e órgãos de patrimônio, principalmente por não considerar o destino dos moradores da Vila.

Este debate persiste até hoje, com questões sobre a criação de um centro cultural em um local de moradia e como integrar a habitação ao projeto cultural. As famílias que viveram na Vila por décadas, após cerca de sete anos de luta, foram realojadas em habitações sociais na região central da cidade. O site da Vila Itororó mantém memórias dos moradores, artistas e ativistas que participaram desse movimento.

A Prefeitura de São Paulo viabilizou a restauração utilizando recursos captados através da Lei Rouanet, em parceria com o Instituto Pedra. O projeto foi aprovado pelo Ministério da Cultura e é apoiado por recursos de pessoas físicas e jurídicas. O site da Vila Itororó se tornou um amplo arquivo sobre sua história e as atividades culturais e políticas ao seu redor.

Foto: Nelson Kon