Centro cultural temporário

O centro cultural temporário teve uma duração limitada. Este experimento fez parte de um projeto mais amplo, conhecido como Vila Itororó Canteiro Aberto, que busca uma reflexão aprofundada sobre a restauração da Vila Itororó.

A partir de 10 de março de 2018, o projeto Vila Itororó Canteiro Aberto assumiu uma nova forma, mais reduzida. Suas atividades passaram a se restringir ao restauro, a debates públicos esporádicos e à divulgação de informações sobre a Vila Itororó. Assim, a programação cultural que acontecia no galpão com entrada pela Rua Pedroso, 238, deixou de fazer parte das atividades do projeto e passou a ser administrada pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Dessa forma, o site da Vila Itororó transformou-se em um arquivo, e o texto abaixo, sobre a proposta de um centro cultural temporário no canteiro de obras, refere-se a um período específico (2015-2018), mas cujos impactos ainda são incertos.

O Processo e os Desafios do Canteiro Aberto

O que ocorre por trás dos tapumes de uma obra de restauração? Quando uma obra é considerada concluída? Quem decide os futuros usos de um local em restauração? Quem será o público desse lugar? De onde vêm os recursos para financiar obras públicas? A abertura do canteiro de obras de restauro da Vila Itororó visa responder a essas perguntas e levantar outras, tornando visíveis as muitas decisões que valorizam o lugar em restauração e o legitimam como patrimônio.

No canteiro de obras da Vila Itororó, o trabalho de arquitetos, engenheiros, operários e marceneiros está exposto. Qualquer pessoa pode entrar nesse canteiro e, assim, deixar de ser um simples observador para se tornar parte ativa do projeto.

Entre os escritórios e ferramentas de trabalho, o visitante encontra um espaço em constante construção, que revela as lutas recentes da Vila, seu passado e seus possíveis futuros. Esse espaço em construção cresce junto com seu público, em meio aos escombros e às obras de restauro em andamento.

Tudo está em construção no canteiro aberto: o passado e o futuro da Vila com suas múltiplas histórias, contraditórias e imperfeitas; o site que abrigará o arquivo do projeto; os desafios técnicos de restauro que exigem o desenvolvimento de técnicas inovadoras; a noção de cultura, já que a Vila, com suas características únicas, não pode ser um centro cultural tradicional; as diversas formas de habitar a Vila; a formação do público que se define ao usar o local; as divisões de trabalho dos profissionais envolvidos no restauro, que criam novas formas de trabalhar; o modelo de gestão que a Prefeitura de São Paulo pretende desenvolver para o conjunto; e até a própria cidade, que, a partir da experiência da Vila, parece poder ser construída coletivamente para se tornar um lugar verdadeiramente comum.

Esse espaço em construção e de construção coletiva funciona como um centro cultural temporário ou, melhor dizendo, como um experimento em escala real de um novo tipo de centro cultural, ainda por vir.

É um laboratório urbano e um espaço-manifesto, mostrando que existem alternativas aos modelos vigentes de equipamentos culturais; que o patrimônio é vivo e pode ser ativado, independentemente do seu estado de preservação; e que os usos futuros da Vila devem ser pensados a partir das experimentações e debates públicos que hoje acontecem nela.

O Valor da Construção Coletiva

Obras públicas exigem uma construção coletiva. Essa necessidade é urgente. A cidade não pode esperar por tempos melhores para, enfim, melhorar. Ela pode mudar agora, a partir do que é e não do que já foi ou sonha em ser algum dia. Quem visita a Vila hoje já pode ouvir sua história contada por arquitetos, urbanistas, historiadores, ex-moradores, novos frequentadores e vizinhos; pode encontrar trabalhos de artistas que problematizam o lugar que a Vila ocupa na cidade e o lugar da arte na Vila; pode participar de oficinas de marcenaria; usar a horta; brincar no galpão; cozinhar; ensaiar; estudar; descansar; ler ou simplesmente passear, respeitando algumas regras flexíveis de convivência, mas sem precisar de autorização prévia; porque a cidade é nossa; porque o público é nosso bem comum; porque o patrimônio existe também pelo valor de uso que nós lhe conferimos.

Por canteiros abertos!